A preparação de uma nova época desportiva, entronca inicialmente no conhecimento mais pormenorizado do contexto social e desportivo em que vamos “atuar”, nomeadamente conhecimento da dimensão do clube, impacto na sociedade civil (quer em termos de clubite, quer em impacto formativo – desenvolvimento de atletas/crianças) e os objetivos desportivos definidos (qualitativos e quantitativos).
Estando aclaradas estas premissas, deverão ser salvaguardadas condições organizacionais, físicas e logísticas, concretamente com o cumprimento das seguintes etapas:
1. Organização Departamentos (Médico, Logística, Administrativo, Scouting, Futebol Formação). É fundamental criar as formas de interação e os timings, tarefas, regras de funcionamento e ainda o responsável por cada departamento, de modo a informação e a eficácia das tarefas serem concretizadas;
2. Criação do Regulamento Interno Clube/Escalão - definição das regras de funcionamento dos vários departamentos e nos vários espaços do clube/fora do clube (inclusive atletas), de modo a balizarmos os comportamentos de todos e acautelarmos comportamentos desviantes dos esperados;
3. Criação dos Canais de Comunicação (ex. grupo Whats app, email cada departamento, etc…), entre os vários departamentos, para a informação ser expandida para as pessoas afetas a cada trabalho e fluir de forma correta e eficaz;
4. Implementação Organograma Estrutura – definição de hierarquias, para ser claro o reporte das situações/a decisão a quem se dirige;
5. Implementação Organograma Equipa Técnica – definição de tarefas e timings de reportes (relatórios) da informação;
6. Definição da Ideia de Jogo – em função do contexto competitivo, dos objetivos do clube, do “nosso posicionamento” no campeonato, definimos uma ideia de jogo com os princípios (técnicos – táticos e comportamentais) que pretendemos implementar;
7. Constituição do Plantel – formação do plantel em função do perfil de jogador/equipa;
8. Planeamento da Pré Época – organização dos microciclos em termos de calendarização, conceitos e objetivos.
As etapas anteriormente identificadas estão todas interligadas e fazem parte de uma “rotina” de planeamento que acredito ser a correta e mais eficaz, para o bom funcionamento da época desportiva.
Relativamente ao meu papel/influência, na definição e implementação das diferentes etapas é total, ou seja, enquanto líder do processo, defendo que o treinador tem que ter uma responsabilidade alargada na projeção e concretização do planeamento, por isso, conjuntamente com a estrutura diretiva (presidente, diretor geral e diretor desportivo) defino e monitorizo não são questões relacionadas com a ideia de jogo e planeamento técnico, mas também na organização dos vários departamentos.
O processo sendo alargado em termos de informação, tem que ser necessariamente um trabalho de equipa, por isso, a equipa técnica é pluridisciplinar nas suas capacidades e funções, ou seja, cada elemento tem a responsabilidade por um vetor do nosso processo, que me reportam em cada momento definido no organograma. O nosso foco em termos de distribuição de tarefas são as seguintes: análise do nosso desempenho coletivo, análise do adversário, planeamento do microciclo/mesociclo, planeamento estratégico de jogo, scouting, recuperação/preparação física dos atletas, controlo de cargas individuais, análise estatística individual/coletiva, monotorização das redes sociais.
O conhecimento antecipado do clube/enquadramento social e os seus objetivos, conjuntamente com a visão/atuação, em todos os domínios que interfere com o futebol sénior, permite-nos a definição da nossa ideia de jogo, que tem como consequência a criação do perfil de atleta pretendido para cada posição, aliado ao perfil social que o clube/equipa técnica idealiza e naturalmente a identificação dos atletas que se encaixam no pretendido.
Ao longo da época desportiva e em função da previsão de quadro competitivo da época seguinte (campeonato a disputar, objetivos), a equipa técnica vai identificando e sinalizando por preferências os atletas para cada posição. Considerando o rendimento dos nossos atletas, reconhecemos as lacunas que existem, nomeamos as posições a reforçar. Ressalvo que, neste processo de reconhecimento de lacunas e mesmo nos reforços, vamos ao máximo pormenor na recolha de informação, inclusive o histórico de lesões
O período pré competitivo, na componente organizacional e na componente desportiva é determinante para o cumprimento dos objetivos, mas também para sustentar o processo ao longo da temporada. Nesse sentido, a Pré Época é definida com as seguintes diretrizes:
1. Definição de Timings de Partilha / Introdução da Informação da Ideia de Jogo (Vídeo);
2. Definição dos Objetivos para os Microciclos / Mesociclo;
3. Criação das Unidades de Treino;
4. Calendarização dos Jogos de Amigáveis;
5. Criação de Sistema de Monotorização de Desempenho;
6. Criação de Sistema de Monotorização de Cargas.
Em Suma, o trabalho de preparação no “campo” organizacional e no “campo” técnico, são a chave para o sucesso, quer projeto e quer dos resultados desportivos que possamos vir a colher. Quanto mais estruturado e antecipado for maior é a possibilidade de ser “tudo bem feito”, sendo de extrema importância a definição das hierarquias, das tarefas de cada departamento/colaborador, da forma critica como monitorizamos e analisamos os resultados obtidos (nesta questão resultado não é só o do nosso jogo, mas tudo o que envolve atleta, equipa – ex. tempo de recuperação de um atleta, desenvolvimento do atleta num determinado período, desempenho coletivo da equipa num determinado principio e/ou momento do jogo). Sabendo que a concretização e o crescimento das pessoas e das equipas estão diretamente relacionadas com a ambição e a definição da forma como “vivemos” o processo, temos uma premissa desde a “primeira pedra na construção da nossa casa”, que é “…quem não cuida do futuro que quer tem que aceitar o futuro que vier…”
Artigo escrito por Hugo Gomes (Treinador SC Vista Alegre)