A ideia de jogo incorpora tudo aquilo em que acredito e é construída ao longo do tempo. No fundo, são os princípios e os comportamentos que pretendo visualizar na nossa equipa.
Na criação da ideia de jogo, acredito que “…a árvore troca as folhas, mas não perde as suas raízes…”, ou seja, não podemos negligenciar alguns factos determinantes e mutáveis a cada nova época desportiva, nomeadamente o nosso posicionamento no enquadramento competitivo e os objetivos definidos pelo clube para a época desportiva. Contudo, o treinador é influenciado por todos os momentos que viveu e com quem os viveu. Assim, importa realçar que os princípios gerais, macro princípios e sub princípios não alteram independentemente do contexto competitivo e dos objetivos, mas no caso dos princípios técnico-táticos são mutuáveis.
De notar, que a ideia de jogo é constituída pelas seguintes diretrizes:
1. Identidade = Valores
2. Modelo = Objetivos Qualitativos e Quantitativos
3. Sistema = Operacionalização
A soma destas três componentes dará o nosso jogar, que se cinge a uma citação “…o que sou reflete-se no meu jogar, assim como, esse jogar faz-me ser quem sou…”.
Na primeira fase concebemos a identidade, definindo princípios de comportamento sociais (código de conduta e regulamento interno), além dos princípios comportamentais desportivos (modelo de jogo). Na segunda etapa é traçado o modelo, ou seja, são formulados os objetivos quantitativos (definidos pela direção do clube para as diversas provas) e os objetivos qualitativos (definidos pela equipa técnica – etapas de crescimento do nosso processo). Na terceira fase surge a operacionalização da ideia de jogo, onde criamos o modelo de treino e os exercícios para chegarmos aos objetivos qualitativos. Este tipo de processo vai sendo em crescendo em termos de aquisição de conceitos e complexidade da ideia/operacionalização.
Focando a nossa atenção na primeira fase, a identidade é definida por diretrizes gerais, que são transversais a todos os momentos do jogo, nomeadamente:
Queremos dominar – tempo, espaço e bola;
Ordem para agir – rapidez na interpretação, análise lúcida e decisão perspicaz;
Não Vergar – antes ter a coragem de tentar, que o medo de fazer;
Viver o agora – não adianta viver o amanhã se não vivermos o hoje.
O passo seguinte é em cada momento do jogo estipular os macros princípios, subprincípios e princípios técnico-táticos, que naturalmente entroncam em todo o que foi criado para trás.
De modo a enquadrar esta informação e exemplificar, nesta época desportiva de 2023/2024, o Vista Alegre competiu na 1ª Divisão Distrital de Aveiro, cujos objetivos quantitativos era a conquista da 1ª Divisão Distrital, logo seriamos uma equipa dominante e que passaríamos maior parte do tempo em dois momentos do jogo, organização ofensiva e transição defensiva.
Posto isto, no momento de organização ofensiva o nosso lema é “todos têm que ser solução", sendo os macro princípios gerais são:
Campo Grande = aproveitar as dimensões máximas do campo de modo a conseguirmos dividir o adversário;
Mobilidade = procura de espaço constante, com correta interpretação do tempo e espaço, utilizando a sigla Descobrir X Ocupar X Desocupar
Criação de Superioridade Numérica = criar superioridade na zona da bola, para que a progressão seja mais eficiente, permitindo um gesto técnico e uma decisão mais correta.
Relativamente ao momento transição defensiva o nosso lema é “não permitir que o adversário acredite”, sendo os macros princípios gerais são:
Pressionar Portador da Bola e Espaço Circundante = todos juntos abafar portador da bola e linhas de passe;
Fechar Baliza = obrigar adversário a jogar para os corredores laterais;
Não Ser Ultrapassado e Proteger Colegas = importância dos duelos individuais e das coberturas defensivas.
Em suma, a ideia de jogo é fortemente influenciado por todas as experiência que vivemos e com as pessoas com quem nos cruzamos, no entanto, existem variáveis a serem consideradas não na conceção da ideia (identidade), mas no sistema (operacionalização), sobretudo nos princípios técnico táticos. A ideia de jogo é concebida por um conjunto de fases que se interligam e que no fundo deverá ser a representação comportamento em termos sociais e desportivos da nossa equipa, porque o caminho é iniciado quando escolhemos os valores sociais e desportivos. A partir daí é desenvolvido o restante processo, sem nunca esquecer três momentos importantes para a ideia: que tipo de homem/jogador recrutar; que tipo de grupo queremos orientar; que tipo de treino pretendemos implementar para conseguirmos ir alcançando as etapas de crescimento (objetivos qualitativos), que terão como consequência natural os objetivos quantitativos.
“… Tudo pode ser considerado impossível, até acontecer…”
Hugo Gomes passou pelo futebol de formação, antes de se tornar treinador adjunto no Fiães SC. Na época passada, ingressou no SC Vista Alegre onde, este ano, se sagrou campeão da Primeira Divisão Distrital de Aveiro.