"A primeira dificuldade é fazeres uma seleção de jogadores depois de uma época em que fizemos o melhor ano de sempre no SC Vista Alegre, uma vez que ganhámos o único título da história do clube"
Entrevista a Hugo Gomes, que nos contou todo o seu percurso desde o treino na formação até à subida do SC Vista Alegre ao Campeonato Sabseg, e nos explicou as suas ideias e como trabalha o seu staff
Hugo Gomes começou o seu percurso no treino na AD Sanjoanense, e por lá ficou até se mudar para o AA Avanca, onde chegou a lutar pela subida de divisão nos sub-19 aos campeonatos nacionais, e ajudou o escalão a vencer a Taça Distrital. Nos seniores, foi treinador-adjunto no AA Avanca e no SC Fiães, até decidir que estava pronto para aceitar o convite do SC Vista Alegre. Em duas épocas e meia, conquistou o único título do clube na sua história ao conseguir subir de divisão, e saiu a meio desta época por decisão própria
Quando eras jovem, já ambicionavas ser treinador?
Sim, desde que comecei a jogar que sempre tive o estímulo de tentar perceber porque fazíamos as coisas. Lembro-me que foi não só enquanto jogador na formação, mas também fora do clube. Era um fã de CM e mais tarde do Football Manager, onde gostava de fazer estratégias de jogo, escolher jogadores e montar equipas. Também discutia, no bom sentido, com os treinadores sobre questões estratégicas, para perceber porque é que jogávamos de determinada forma, porque é que pressionávamos ou construíamos daquela forma. Foi a partir dos iniciados que comecei a ganhar esse bichinho de querer ficar ligado ao treino.
Qual foi o teu percurso em termos desportivos até passares para o lado do treino?
Comecei a jogar numa escolinha de futebol que se chamava Paraíba, em Loureiro, onde joguei com o cartão de outro menino porque ainda não tinha idade para jogar (risos). Depois, passei pela UD Oliveirense, onde fiz escolinhas e infantis, e a meio dos iniciados B saí para a AD Sanjoanense, onde acabei por fazer o resto da formação até ao futebol sénior.
No final do meu percurso formativo, tive a sorte de ser escolhido para ficar na equipa A, na altura na 3ª Divisão Nacional. Não tive muitos minutos, e o facto de estar a estudar acabou por influenciar. Por esse motivo, fui na época seguinte jogar para o Pinheirense, ou seja, passei da 3ª Divisão Nacional para a 2ª Divisão Distrital.
No Pinheirense fizemos uma época engraçada, mas não conseguimos subir. Saí depois para o Valecambrense, na altura quando tinham descido para a Divisão de Elite de Aveiro. Fizeram um grande investimento para voltar a subir aos Nacionais, mas as coisas não correram bem, e tivemos quatro treinadores nessa época. Acabei por não acabar a época porque, entretanto, tinha vindo trabalhar para a Gafanha Nazaré, e saí a um mês do fim do campeonato.
Fiz um último ano no Sanguedo, mas aí já a sentir que queria deixar de jogar. Sempre fui muito consciente, sabia que a partir do momento em que percebesse que não podia chegar ao patamar que pretendia enquanto jogador, iria deixar de jogar. Terminei a minha carreira de jogador aos 22 anos.
Como surgiu o convite para seres treinador-adjunto dos sub18 e sub19 da AD Sanjoanense?
Na altura tinha um grande amigo, dos tempos da formação, e ambos tínhamos o bichinho do futebol, e a certa altura desafiei-o a ir treinar o nível 1 de treinador. Fomos e, no ano seguinte, precisávamos de fazer o estágio. Como tinha uma boa relação com a AD Sanjoanense, pedi para fazer lá o estágio, com a única condição de ser futebol de 11 e os treinos serem mais ao final do dia. Na altura tinha falado com o Paulinho, o agora coordenador do clube, e que chegou a ser adjunto do Pepa, e ele até saiu nessa época, mas passou o contacto ao coordenador seguinte, que acabou por me contactar.
Na altura havia só um plantel de juniores, com trinta jogadores, mas divididos em duas competições: os sub-18 competiam na 2ª Divisão Distrital, e os sub-19 na 2ª Divisão Nacional. Comecei como treinador-adjunto dos sub18, mas foi um ano brutal porque levávamos muitas vezes jogadores dos sub16, sub17, sub18 e sub19, e os miúdos por vezes nem sabiam os nomes uns dos outros e, portanto, foi um grande desafio fazer com que todos percebessem os princípios gerais que queríamos.
Em novembro, dois dos quatro elementos da equipa técnica saíram para a Divisão de Elite de Aveiro e, portanto, das quatro pessoas iniciais, ficámos apenas dois: o treinador principal dos sub-19, e o treinador-adjunto dos sub-18, que era eu. Desta forma, comecei a assumir o contexto de treino e as palestras. Ainda não operacionalizava, mas já ia sendo mais interventivo, e acabei a assumir a liderança nos jogos dos sub-18.
Acabei esse ano, por dificuldades financeiras do clube, como treinador-adjunto dos sub-19 e, como o treinador principal não conseguia ir à primeira meia-hora do treino, eu é que operacionalizava e dava os treinos, e muitas vezes até os dava do início ao fim. Foi uma grande experiência.
No ano seguinte assumi os sub-17 do clube, num ano em que só os juniores se tinham conseguido manter no Campeonato Nacional. Foi um ano difícil e, com a entrada de novas pessoas no clube, entendi que não me identificava com as diretrizes, e saí.
Depois foste para o AA Avanca, na época 2017/2018, onde chegaste a ser treinador principal durante duas épocas dos sub-19 do clube. Como surgiu o convite?
Surgiu porque na altura o Bruno, coordenador de formação do clube e amigo de infância me tinha encontrado no fim de um torneio da Sanjoanense, e tínhamos falado. Passado um tempo, ligou-me para ser treinador-adjunto dele nos sub-17. Acabei por, durante a época, tornar-me o treinador principal dos juvenis, porque o Bruno teve de assumir os sub-19. Cheguei a fazer alguns jogos pelos juniores, quando ele não podia, e continuámos a trabalhar em conjunto. Tivemos a felicidade de vencer a Taça Distrital de Juniores nessa época, contra um Feirense que tinha levado os melhores jogadores, e nós com atletas sub-16, sub-17, sub-18 e apenas um de sub-19. Foi uma grande experiência.
No ano seguinte assumi os sub-19, num projeto a dois anos para subir ao Campeonato Nacional. Na primeira época íamos conseguindo, mas o clube não estava preparado para esse salto. Não estava organizado para lutar contra equipas como o Lourosa, AD Taboeira ou AD Sanjoanense. O ano a seguir não correu tão bem, e até saí uma semana antes da paragem por causa da Covid-19. Saí, mas com a promessa que continuaria ligado ao clube, como treinador-adjunto dos seniores.
De que forma a passagem pelo futebol de formação foi importante para ti?
Sou sincero, ainda que seja muito calmo e pedagógico, era incapaz de treinar abaixo dos sub-17, porque não tenho perfil para isso. Contudo, acho que treinar no futebol de formação é muito importante para perceberes a essência do jogo. Na formação, os miúdos não estão por dinheiro, jogam porque gostam do amigo, do clube e do jogo. Aprendes a lidar com os diferentes objetivos dos jogadores.
Para além disso, és o catalisador para aqueles miúdos porque tens de os fazer acreditar que podem chegar ao futebol sénior, e essa ambição surge a partir dos sub-17.
A somar a isso, é uma fase em que apanhas as maiores maturações em termos físicos e mudanças em termos psicológicos, porque surgem os estímulos extrafutebol, extraescola e extrafamiliar, que te podem levar a desistir. Tens de os manter focados, mesmo com a questão da namorada, da noite, entre outras coisas. É extremamente desafiante.
Passaste depois pelos seniores onde feste treinador-adjunto, e ainda pelo SC Fiães. Quais foram os treinadores as tuas funções nesses dois clubes?
Fiz um bocadinho de tudo, também pelo número de pessoas nas equipas técnicas. Em Avanca éramos seis pessoas, mas foi o ano Covid e houve ajustes a meio do ano, e acabei por ganhar maior relevância, onde passei a ser o primeiro adjunto. Fazia análise ao adversário, à nossa equipa, operacionalizava e geria o treino.
No ano seguinte a equipa técnica era maior, e as minhas funções eram mais de visualização e feedback ao treinador principal. O mister Norton de Matos acabou por sair a meio da época, e há ali um curto período em que tenho de assumir como treinador principal porque quem tinha vindo substituir não conseguiu estar.
Em Fiães o trabalho era distribuído, e tinha um papel bastante ativo. Éramos quatro, mais um analista. Tinha um papel relevante no treino, no feedback e na análise. Tive muita liberdade por parte do treinador principal Porto Gomes.
Foi importante ter sido treinador-adjunto porque, no meu caso, tive sempre a sorte de aprender com quem fui estando. Para além disso, é importante termos um papel secundário. Em termos pessoais desenvolvemos questões como a resiliência, a lealdade, a paciência. A juntar a isso, as reflexões que realizas sobre aquilo que o treinador principal faz, e vais percebendo o que farias em determinadas situações.
Fizeste a tua segunda época e meia como treinador principal do SC Vista Alegre, sendo que o ano passado conseguiste subir o clube de divisão, para a principal divisão distrital de Aveiro. Como surgiu essa oportunidade de te tornares treinador principal?
No ano em que lutei para subir com os juniores do Avanca, tinha a opinião de que estava pronto para dar o salto, achava eu na minha terna idade e no alto da minha ambição. Como o clube apostava muito em jogadores da formação, e como o treinador dos seniores tinha saído, entendi que aquele momento poderia ser o meu. Entretanto, o clube contratou o Cajó, que no ano anterior tinha subido o SC Beira-Mar ao Campeonato de Portugal. No ano seguinte o Cajó saiu, e houve novamente essa oportunidade, que não se confirmou, acabando por ficar a treinador-adjunto do mister Miguel Fernandes. Na época seguinte, fui treinador-adjunto do mister Norton de Matos, e durante esse ano surgiu-me a oportunidade do SC Vista Alegre. Ponderei, e percebi que não conseguia montar uma equipa técnica suficientemente forte para o desafio, e a média de idades da equipa também era bastante baixa, pelo que achei melhor recusar. Passado pouco tempo surgiu o Válega, que também não aceitei, mas fiquei sempre com a sensação de que queria dar esse passo.
Nessa época, quando o mister Norton de Matos saiu, assumi sozinho o treino com o treinador de guarda-redes, sabendo que não iria ser eu a ficar como treinador principal. Já não vencíamos há onze jogos, durante mais ou menos três meses, e o certo é que conseguimos vencer 1-0 ao SC Fermentelos. Percebi que era capaz, que estava pronto.
Entretanto, apareceu a proposta do SC Fiães, e eu senti que era o momento de mudar de clube, uma vez que já estava em Avanca há alguns anos. Fiquei lá até ao final de janeiro de 2023, e na semana do último jogo decisivo, contra o SC Espinho, decidi na semana anterior que iria aceitar o convite que o SC Vista Alegre tinha de novo feito. Não disse nada aos jogadores, porque não queria ter qualquer tipo de influência no ambiente da equipa antes do jogo decisivo. Fizemos a festa no domingo e eu, só no treino seguinte, é que me despedi do plantel.
Qual foi o projeto que o SC Vista Alegre te apresentou na altura?
Na altura quiseram muito ouvir quais eram as minhas ideias. Perceber a minha ideia de jogo, qual a minha opinião sobre o plantel, quem achava que devíamos contratar. Transmitiram-me que vinham de vários anos de insucesso desportivo, e queriam um projeto de ano e meio de mudança de paradigma na forma como se montava o plantel, não só na média de idades como também na mentalidade dos atletas. Queriam também uma identificação do adepto ao que a equipa fazia em campo. Teria de ser uma equipa com ambição, resiliência, com vontade de ganhar. Na altura até me disseram que queriam uma “equipa mais de transpiração do que inspiração”. Se os adeptos sentissem que tinham visto isso em campo, iam perdoar um resultado menos positivo.
Quais foram as principais dificuldades e desafios que tiveste esta época, no contexto mais competitivo a nível sénior em Aveiro?
A primeira dificuldade é fazeres uma seleção de jogadores depois de uma época em que fizemos o melhor ano de sempre no SC Vista Alegre, uma vez que ganhámos o único título do clube em contexto sénior. Depois, fomos nós que construímos o plantel, e é difícil riscar jogadores quando temos um plantel vencedor.
A segunda dificuldade é convencer jogadores, que estão habituados ao Campeonato SABSEG, a escolher o nosso projeto e não outro, com um historial de clube que costuma estar sempre a subir e a descer. Sabíamos que o nosso orçamento não era muito alto, e então tivemos de identificar bem os nossos alvos e ser cirúrgicos.
Os jogadores que queríamos renovar disseram que sim, e nos jogadores contratados não tivemos dificuldade. Acreditaram desde o primeiro dia no projeto, e foi relativamente fácil de fechar. No início de junho já tínhamos o plantel praticamente fechado, dois meses antes do início da pré-época.
Para além disso, a mudança de mentalidade. No ano anterior jogávamos todos os jogos para dominar, onde praticamente só jogávamos em organização ofensiva e transição defensiva, e passámos para um contexto oposto, com pouca bola e a defender muito, a sair em ataques rápidos e a aproveitar as bolas paradas. Sabíamos que não era isso que procurávamos a médio prazo, mas como o nosso calendário determinou que até à sétima jornada jogávamos com os três ou quatro principais candidatos à subida, sabíamos que não ia ser fácil, e só com o tempo e com os jogos íamos conseguir evoluir no nosso jogar.
Foi o que acabou por acontecer, e ao longo do campeonato fomos crescendo, e atualmente já conseguíamos dividir muito mais os jogos. Se formos a ver, a maior parte das derrotas que tivemos foi com a diferença de um golo, o que demonstra o equilíbrio nas partidas. O maior exemplo de evolução foi quando há poucas jornadas atrás conseguimos dividir até ao fim o jogo com um candidato como o SC Espinho, quando eu até acho que, pelo menos, merecíamos o empate.
Depois, o terreno de jogo. Sempre que íamos fora, jogávamos em relvado natural, ao contrário do que acontecia na época anterior. Isso é uma dificuldade acrescida, não só pelo piso, mas também pelo desgaste físico. Um jogo na relva não tem o mesmo impacto físico num sintético, e nós não tínhamos como nos preparar para isso. Isso também se refletiu nos resultados: 19 pontos em casa e apenas 8 pontos fora.
Por fim, quando construímos um plantel muito jovem, com uma média de idades bastante baixa no onze inicial, corremos um bocadinho o risco de pagar esse preço neste campeonato. É uma competição bastante exigente, onde não se pode desligar um minuto, e é natural que isso aconteça quando se tem uma equipa muito jovem. Faz parte da evolução, e foi decisão nossa termos um plantel mais de potencial do que de rendimento.
Quantos elementos tem o teu staff e quais as funções de cada um?
Começámos com seis. Éramos inicialmente cinco, com mais um estagiário que chegou entretanto. O staff era composto por mim, pelo André Sousa, que era o treinador-adjunto, o João Palavra, treinador-adjunto e analista, o Jorge Resende, preparador físico, e o Marco Martins como treinador de guarda-redes. Como estagiário, o Duarte.
Acho que o número ideal são cinco pessoas, de forma a conseguir-se partilhar competências. O Jorge, entretanto, saiu, e o Duarte assumiu a sua função porque estava ligado à sua formação académica.
Em termos de funções, nós definimos muito bem as tarefas de cada um e os tempos de entrega. O André Sousa preocupava-se em analisar a nossa equipa, fazer os cortes e apresentar no primeiro treino da semana. O João Palavra analisava o adversário, fazendo os cortes para podermos colar no balneário para os jogadores poderem ver os pontos chave do clube com quem vão jogar no fim de semana. Fazia também um documento escrito com os vários momentos de jogo e o padrão do adversário, e identificava algumas soluções para contrariar esse padrão. Depois, faz isso em vídeo, que é mostrado no segundo dia da semana. O Jorge Resende ou o Duarte tinham de monitorizar as cargas físicas e, para além disso, fazer um relatório estatístico geral e individual do jogo. O Marco está responsável pelos guarda-redes. Para além disso, temos um elemento responsável pela verificação das redes sociais dos nossos jogadores.
Em termos de planeamento do treino, era eu quem o fazia, e depois passava-lhes. Contudo, faço-o depois de receber o feedback da restante equipa técnica. O dossiê de treinador é partilhado por todos e fazemos alguns relatórios como, por exemplo, do tempo útil de treino.
Como é uma semana de trabalho do teu staff?
Nós treinávamos três dias por semana. Em termos de informação, no primeiro dia, fazíamos a análise em vídeo da nossa equipa, e disponibilizávamos as informações gerais do próximo adversário. No outro dia, passávamos as ideias que tínhamos para o próximo jogo. No terceiro dia não dávamos nenhuma informação aos jogadores. No dia de jogo, tínhamos duas palestras: uma de plano estratégico, e antes do jogo uma só para quem ia jogar de início, para tirar dúvidas ou reforçar algum aspeto importante.
Falando agora do treino, no primeiro treino da semana a nossa preocupação era o desenvolvimento do nosso modelo de jogo em contexto reduzido como, por exemplo, trabalhar uma saída por fora porque detetávamos que em jogo só estávamos a fazer passes interiores.
Quinta e sexta-feira fazemos trabalho direcionado para o jogo. Não trabalho sempre as mesmas coisas todas as semanas, mas sim em função da semana, do adversário e daquilo que entendo ser mais benéfico para nós. Em relação às bolas paradas, vamos fazendo, com maior foco nas ofensivas, normalmente à sexta-feira.
És tu quem gere todo o treino, ou delegas funções nos teus adjuntos?
Sou eu que faço o planeamento do treino, até por uma questão de logística. Antes de começarmos o treino, explico o que vamos fazer e quais os objetivos dos exercícios. Obviamente que falamos durante o dia, mas infelizmente temos de fazê-lo assim, porque de outra forma seria humanamente impossível. Todos nós trabalhamos, e por isso alguém tem de assumir essa responsabilidade, e eu acho que quem o deve fazer é o treinador principal, pois é dele que parte a ideia de jogo.
Indo agora às funções do treino, o aquecimento é sempre do preparador físico, com mais uma ou duas pessoas a auxiliar. Num segundo momento, do transfer do aquecimento para uma situação mais micro, é o André e o João Palavra quem controla, porque normalmente dividimos o grupo em dois. O Duarte controla as bolas e eu vou vendo num campo e noutro, e nas interrupções dou feedback. Na fase fundamental do treino, sou eu que lidero e eles ficam por fora, tendo autonomia para dar feedbacks individuais ou até sectoriais.
Durante esta época, já mudaste algumas vezes de sistema. De que forma se prepara uma equipa para se poder apresentar em campo com diferentes sistemas táticos?
Nós quando fazemos a preparação para o início de época escolhemos duas estruturas táticas que entendemos que durante a época nos podem ser benéficas. Este ano identificámos o 4-3-3 com um médio defensivo e dois interiores, e o 4-4-2 losango, isto tendo em conta as características dos nossos jogadores.
Durante a pré-época, fomos dando esse conhecimento à equipa, e fomos desenvolvendo essas capacidades em treino, que depois testávamos ao fim-de-semana. Nesses amigáveis, definíamos objetivos para o jogo, como o que queríamos no momento ofensivo ou defensivo, e íamos trabalhando assim os modelos em paralelo.
Demos primazia ao 4-3-3, e por isso nas duas primeiras semanas de pré-época trabalhámos esse sistema, depois uma semana e meia no 4-4-2 losango, que coincidiu com três jogos amigáveis, e depois voltámos novamente ao 4-3-3.
À medida que o campeonato se ia desenrolando, percebemos que a nossa equipa, como construía muitas vezes em 3-4-3 com o baixar do médio defensivo, entendemos que em alguns momentos também precisávamos desse jogador no momento defensivo. Por esse motivo, a partir de Espinho, onde jogámos 60 minutos com um jogador a menos e optámos por defender numa linha de 5, fomos desenvolvendo esse modelo do 5-4-1 juntamente com o 4-3-3, abdicando assim do 4-4-2 losango.
Em termos de operacionalização, há momentos do nosso microciclo em que desenvolvemos a estratégia de jogo tendo em conta o adversário, e no primeiro dia da semana é que nos focamos mais no nosso modelo de jogo. Por esse motivo, aproveitávamos as terças-feiras para trabalhar as nossas estruturas táticas, que fomos fazendo em paralelo. Depois, em função do adversário, escolhíamos qual o melhor sistema. Como tínhamos um plantel jovem, eram muito abertos a novas ideias, e receberam bastante bem estas mudanças. Os adversários até reconheciam a dificuldade em analisar as nossas equipas porque tínhamos variabilidade na forma como nos apresentávamos em campo.
Defendes que seria importante, mesmo em contexto distrital, ter um departamento de scouting? Que vantagens poderia trazer?
Eu acho que é importante em qualquer contexto, se for possível. A identificação de jogadores para a nossa forma de jogar é bastante importante, e quanto mais for avaliado o jogador até ser contratado, melhor. O scouting, muito honestamente, acho que resolve muitos problemas de uma época desportiva. É um departamento muito importante, e qualquer clube que tenha condições deve ter, seja para a formação, seja para os seniores.
Os dois departamentos que escolheria, se tivesse essa possibilidade, seria um departamento médico e um departamento de scouting. Um bom departamento de scouting recruta-te jogadores para a tua ideia de jogo com qualidade e critério, e um bom departamento médico previne-te as lesões e coloca-te os melhores jogadores lá dentro.
O SC Vista Alegre tem atualmente os juniores na principal divisão do escalão. De que forma isso foi importante para o plantel sénior?
A questão competitiva é sempre muito importante. Quanto mais alta for a exigência da competição em que estás, maior a tua evolução, qualquer que seja o escalão. Por isso, é sempre bastante positivo teres os juniores de clube num patamar de exigência alto, porque isso vai reduzir as diferenças entre um escalão e outro.
Desde o primeiro dia que chegámos ao SC Vista Alegre procurámos ter jogadores dos juniores a treinar connosco, bem como nas convocatórias, algo que também fazia parte do projeto do clube.
E como fazias a seleção de que jogadores iam treinar à equipa sénior?
Inicialmente, quando chegas ao clube, tens de confiar nas pessoas que estão na coordenação e perguntar quem são os melhores atletas. Ao longo da época, como vais treinando com vários jogadores dos juniores, começas também a fazer a tua própria avaliação e a conseguir indicar quem tu queres em função das características que gostas mais. Infelizmente não costumava ver os jogos, porque não tinha essa possibilidade, e então o treino era a oportunidade para os observar e ir conhecendo.
Quais são as tuas ambições no futuro? Treinar no estrangeiro é uma possibilidade?
O meu maior hobby é viajar com a minha família. Gosto de conhecer o mundo porque nos enriquece muito. Por esse motivo, gostava de trabalhar fora por todos os desafios que me iam ser colocados, mas também reconheço que sou um acérrimo português, e que gosto muito de Portugal. Por esse motivo, não é qualquer projeto que me tira de cá. Para além disso, sou também bastante europeu, e por esse motivo seria difícil sair do nosso continente. Se aparecesse o contexto certo, mediante o que disse anteriormente, ponderaria.